Lugar de Fala
Entre as grandes contribuições do feminismo negro está, justamente, romper com a cisão que já está posta numa sociedade desigual que conferiu espaços específicos para diferentes grupos de pessoas. Lugares de poder, de discurso autorizado e universalização, em face de lugares de apagamento de saberes, vozes e existências. Quando feministas negras rompem com essa autorização discursiva, isso significa pensar em novos projetos e marcos civilizatórios para que pudéssemos vislumbrar e discutir, assim, novos modelos de sociedade – como já dizia Lélia Gonzalez.
Nesse sentido, feminismo negro não exclui, mas amplia. É um projeto de sociedade que propõe a alteridade às mulheres negras, pensadas na condição de sujeitos e seres ativos. Resistência e reexistência, na tradição pensada por Ana Lúcia Silva Souza. Pensa as opressões entrecruzadas, pauta um discurso de contrapoder que causa incômodos em quem desfruta de privilégios epistemológicos, isto é, privilégios de conhecimento. Não à toa, quando somos marcadas, enquanto mulheres negras, para sermos estigmatizadas, há menos incômodo do que quando nos marcamos para nos organizar politicamente. As mais velhas que o digam.
O incômodo contra mulher feminista negra, sobretudo as que se colocam publicamente como sujeitos, decorre de uma visão colonial que se quer imposta pelos grupos que historicamente gozaram da legitimação como paradigma moral, político e epistemológico num sistema que hierarquiza a humanidade, mas que com o avanço de narrativas anticoloniais vê-se forçado a assumir, por outro lado, que não é universal é que também é atravessado por identidades.
Com essas breves reflexões, divido com vocês o meu livro Lugar de Fala, que traz o rompimento com discursos impostos e a afirmação da mulher negra como sujeito.
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